Na segunda edição, projeto terá a participação de 25 profissionais, com a missão de transformar a vida de meninos e meninas pelo poder da decoração. Instituição no Santa Efigênia será totalmente renovada pela iniciativa, que depende inteiramente de doações, e entregue no Dia das Crianças; participe, doe, e engrosse essa corrente do bem!
A aflição latente sobre o contexto mundial incerto e turbulento de hoje, que vê a tensão não apenas na realidade prática, e também parece um sentimento interno coletivo, não frustra muita gente que quer praticar o bem, independentemente de dificuldades. Pensar na necessidade urgente de uma mudança global, porém, beira o risco de perceber uma certa impotência e bloquear a ação, mas, trazendo para algo concreto, começa a crescer em cada alma generosa uma certeza que a diferença nasce mesmo das pequenas atitudes diárias. Afinal, às vezes, é simples fazer alguém feliz. É esta a crença do Décor Solidário, projeto recém-saído do forno, que chega em 2015 à segunda edição para revitalizar um abrigo de atenção a crianças em situação de vulnerabilidade social, em Belo Horizonte. Totalmente realizada através de doações e com o trabalho voluntário de arquitetos, designers e empresas, a iniciativa acha na decoração a força para transformar a vida desses meninos e meninas, que receberão a nova casa em outubro, como um presente para o dia especial dedicado a eles.
No ano passado, em tempo recorde, o grupo do Décor Solidário repaginou completamente o Lar de Idosas Santa Teresa e Santa Teresinha, na capital, com um resultado surpreendente, e agora, com um prazo melhor para organizar a obra, é a vez dos pequenos. Para a designer de interiores e psicóloga Fabiana Visacro, idealizadora do projeto em conjunto com a Agência Mão Dupla, muito além de remodelar os espaços, a reforma é um ato de cuidado e carinho. “Como em 2014 fizemos a revitalização de um lugar dedicado a idosas, para esta edição surgiu o desejo de contemplar uma instituição infantil. Recebemos muita sugestões, pedidos, fizemos pesquisas e uma intensa triagem até chegar ao local escolhido”, explica. Com capacidade total de dez leitos, o TJ Criança Abriga, no Bairro Santa Efigênia, tem no momento oito petizes moradores, mas, no percurso dos 15 anos de inauguração, quase 150 garotos e garotas já passaram por lá. Em uma instituição de estrutura precária, onde tudo é recebido de pessoas com boa vontade, a mudança, para Fabiana, poderá ajudar mais ainda no futuro, uma vez que será permanente. “Eles são carentes de tudo. Agora são esses meninos, mas a casa vai continuar existindo para receber outros. É um trabalho que ficará marcado para a vida toda, já que muita criança, que precisar do auxílio, poderá usufruir o abrigo com conforto”, diz.
Já estão definidos 25 profissionais participantes e os ambientes que cada um assume para a intervenção, cerca de 20 cômodos da construção antiga, que se distribuem em um único pavimento. O planejamento é recriar a funcionalidade do imóvel com ideias lúdicas, que aparecerão em harmonizações de brinquedoteca, biblioteca, quarto de estudos, salas interativa e da família, escritório dos funcionários, além dos três dormitórios, corredores, pátios, três banheiros, secretaria, cozinha, copa e refeitório, área de serviço e despensas. Como se trata de um projeto que depende inteiramente de doações, nessa fase toda e qualquer ajuda é bem-vinda e, com demandas das mais diversas, quem estiver interessado tem muitas maneiras de entrar no time da solidariedade.
Fabiana Visacro, que fará cozinha, refeitório e sala de jantar, cita, por exemplo, a necessidade de conseguir latas de tinta, papel de parede, cama, colchão, mesas, cadeiras, sofás, luminárias, cortinas e persianas, tanque e pia, e revestimentos. “Para essas prioridades, o ideal é que tenhamos o apoio de alguma empresa, principalmente de mobiliário, e se conseguirmos outro fornecedor de pedras como parceiro, além do que já está conosco, seria incrível também. Também estamos em busca de um depósito de material de construção para doar itens para instalações elétricas e hidráulicas”, convoca Fabiana. Para a pessoa que quiser colaborar individualmente, ceder livros infantis, brinquedos, jogos e até produtos de papelaria, é uma forma ótima e fácil de ajudar, pontua a designer. Ela aproveita ainda para chamar artistas ou colecionadores para oferecer obras de arte para o leilão programado para 9 de julho, para arrecadar recursos para o projeto, de preferência entrando em contato com a equipe do Décor Solidário no máximo até uma semana antes.
Décor Solidário 2015 – Antes
A designer de interiores e artista plástica Analu Guimarães integra o projeto este ano pela segunda vez e será responsável, ao lado da Casatelier, por reformular um dos quartos e torná-lo flexível para acomodar os guris de forma mista, montando um dormitório unissex. Ela também vai refazer as despensas. No quarto, o ponto de partida é dar pessoalidade, conta, com um cantinho próprio para cada um, mesmo em um lugar comunitário, que dê a noção de posse, mas sem perder a homogeneidade das peças escolhidas no espectro geral do espaço, uma forma de não gerar ciúmes, esclarece. O princípio é trabalhar com baús, armários, camas com gavetões, que possibilitem o ganho de espaço para guardar objetos, aplicando, nas decisões cromáticas, tons alegres e coloridos, mas que não definam gênero.
ESTÍMULO AO CONVÍVIO
Analu continua com as empresas aliadas que encontrou na primeira edição, que já garantiram até o momento toda a parte de cortinas e iluminação, mas agora também carece de novas coisas, e para isso faz o apelo. Seria sensacional, diz, conseguir a ajuda de uma marca forte de mobiliário e planejados, e que seja um doador significativo. É urgente ter as camas, baús de 90 cm de largura para colocar no pé, e armários. Como o piso original é muito frio, Analu também está à caça de uma empresa que possa fornecer o acabamento laminado, a fim de conferir conforto térmico. “Em 2014, o projeto produziu um verdadeiro milagre, considerando o tempo, e agora temos mais tranquilidade e confiança para trabalhar. É sabido que a decoração, ao entrar na categoria do design, passou a ser um elemento de qualidade de vida, e a ideia da revitalização é melhorar a rotina dessas crianças. Mas, aqui, os arquitetos e decoradores também são felizardos. O grupo se uniu de tal forma que está reinventando a própria postura do profissional no mercado”, ressalta.
A arquiteta e designer Adriana Morávia e a designer de interiores Alessandra Morávia estreiam no Décor Solidário para elaborar um ambiente que estimule o convívio. No pequeno estar ao lado da cozinha, nascerá a sala interativa, mais integrada com o espaço contíguo de refeição, a partir da saída de uma parede. “É um lugar para, depois de um lanche, sentar e conversar, assistir filmes, aproveitar jogos, além de servir para receber familiares. Funcionará também para os encontros com as pedagogas e assistentes sociais. Enfim, um ambiente para estar junto”, descrevem.
O destaque é o painel para pendurar desenhos, fotografias e mensagens que, reaproveitando o atual quadro de avisos, dará o toque vivo e a atmosfera divertida à composição, com a produção de um aramado de elásticos coloridos, além de displays acrílicos nomeados para cada criança, para que elas troquem cartas e recados quando não querem expor sentimentos publicamente. Uma estante em pranchão sob a tevê é a ideia para acomodar DVD’s, pufes servirão como lugar para armazenar jogos e, para o ambiente, a dupla também procura um sofá em L e uma poltrona de canto. “A intenção maior do projeto, para nós, é ter um espaço que não lembre nem de perto um orfanato, mas que persiga a noção de família para ser uma casa de verdade”, pontuam.
O TJ Criança Abriga acolhe crianças de 3 a 6 anos de idade, que foram afastadas dos familiares por questões como maus-tratos, abusos, abandono e drogas, ou tiveram seus direitos violados, e ali ficam sob cuidados até ter uma definição que exclua a situação de risco, ou se reintegrando à família, com o pai ou a mãe, ou parentes próximos e, em último caso, sendo encaminhadas para família substituta, explica a presidente, Vânia Cláudia Resende. Para a funcionária pública, que já era voluntária na instituição e assumiu o cargo de diretora em janeiro, este é um sonho que começa a virar realidade, uma reforma que ela desejava profundamente, mas imaginava impossível.
Ela conta sobre a precariedade da estrutura do abrigo, que se mantém desde o início só pela caridade e um convênio com a prefeitura, como móveis velhos e problemas pelo tempo de construção do prédio. “Aqui não tem cara de casa de criança. As coisas não são funcionais, práticas e confortáveis, é tudo meio improvisado. Ter sido selecionado parece que foi mesmo a mão divina. Não é só mudar a decoração. Além de um lar mais aconchegante e bonito, que vai beneficiar os 14 colaboradores, o projeto vai presentear essa garotada com a melhora da autoestima. Para nós, isso é o mais importante. Ver uma criança dormindo numa cama boa e nova é, por si só, a maior gratificação que posso receber”, comemora.
As primeiras intervenções práticas do Décor Solidário 2015 começarão na segunda quinzena de julho, e a entrega está marcada para 5 de outubro, celebrando o Dia das Crianças. O evento terá, inclusive, a presença das idosas atendidas no ano passado. Quem quiser engrossar essa corrente do bem e oferecer apoio pode entrar com contato pela fan page do projeto no Facebook, facebook.com/decorsolidario, ou pelo e-mail decorsolidario@gmail.com.
PONTO DE PARTIDA
Relação de ambientes que serão reformados e profissionais participantes
Corredor interno e pátio – Elisa Mara Rabelo, Marcelle, Lídia Sucasas
Sala da Família – Priscila da Mata
Quarto dos meninos – Débora Mendes e Erika Medeiros
Quarto das meninas – Anna de Matos e Felipe Bastos
Quarto unissex – Casatelier e Analu Guimarães
Banheiros – Luciano Costa e Cida Teles
Quarto de estudos – Deusicléia Horta
Secretaria – Cláudia Zócoli e Cris Terra
Cozinha e Sala de jantar – Fabiana Visacro
Área de Serviço – Silvana Mendes
Despensas – Analu Guimarães
Sala da técnica – Fátima e Andréa Gomes
Biblioteca – Letícia Carvalhaes
Sala interativa – Adriana Morávia e Alessandra Morávia
Brinquedoteca – Rosinha Houri e Patrícia Satler